Huberto Rohden

Huberto Rohden
Professor Rohden

Pesquisar este blog

Seguidores

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eu e os meus defuntos

Um dos maiores sofrimentos para muitos é a morte de pessoas da família ou amizade.


E esse sofrimento é agravado pelo espantalho que certos teólogos  fazem da morte e daquilo que, segundo eles, vem depois da morte... Quase todos ensinam que, depois do julgamento, a alma vai para um céu eterno, ou então para um inferno eterno.


Um cientista moderno, dr. Raymond Moody Jr., escreveu um livro intitulado Vida depois da Vida, em que ele narra o resultado de centenas de pesquisas e entrevistas com pessoas clinicamente mortas, mas que "reviveram" depois. O livro abrange pessoas de todas as condições sociais e de todas as ideologias religiosas e filosóficas.


As narrativas dos "redivivos" coincidem admiravelmente em muitos pontos: quase todos falam de fenômenos ou vultos luminosos que viram; muitos passaram por um túnel escuro que terminava em luz; muitos se encontraram com entidades protetoras e com amigos falecidos...


Na realidade, a morte não marca nada em definitivo; é apenas uma transição de um modo de existência para outro modo. A morte é comparável ao  despimento de uma roupagem e revestimento de outra...  A palavra corpo não deve ser identificada com matéria. Corpo é um revestimento ou um invólucro do espírito, desde que o espírito se encarnou, tornando-se alma, isto é, ânima daquilo que anima ou vivifica...


...O corpo humano pode existir em formas várias. A nosso vida terrestre, em corpo material, não é a nossa única existência. A realização plena do homem não pode estar restrita a 30, 50, 80 anos. Ela abrange o ciclo total de milhares de anos ou de séculos. Podemos dizer que a evolução do homem é sem fim. Somos eternos viajores rumo ao Infinito. E esta viagem ascensional ao Infinito é a nossa vida eterna, que não é uma chegada definitiva, mas uma jornada indefinida, uma sinfonia inacabada.


Não é nenhum Deus externo que nos leva ao céu, nem nos manda ao inferno- é o nosso Deus interno, o nosso Eu humano que faz tudo isto.


Os nossos defuntos não estão no céu nem no inferno, em sentido teológico, estão em plena jornada evolutiva, ascensional ou descensional.


O que interessa aos sobreviventes saber é se, e como, poderão ajudar os seus queridos defuntos.


Toda a vibração reforça outra vibração da mesma frequência ou espécie. Esta lei vale tanto na física quanto na metafísica. Um pensamento, um desejo, um ato de amor, uma prece, uma atitude espiritual são vibrações emitidas por nós- e podem afetar a alma do defunto, suposto que para isso ela tenha a necessária abertura ou receptividade. Nada sabemos dessa receptividade, mas podemos admitir que seja propícia às nossas emissões.


...Quando um homem tem a perspectiva correta sobre a sobrevivência do seu Eu espiritual e de seus defuntos, pode sofrer com certa serenidade a separação deles.


Um dos maiores sofrimentos  é, a separação de pessoas queridas. E esse sofrimento não é aliviado por meio de pêsames e condolências, que não passam de uma espécie de camuflagem, embora permitida. Nessa hora dolorosa deveríamos atingir as profundezas de uma verdadeira consolação de outra espécie.

As nossas teologias tradicionais pouca consolação podem dar aos sobreviventes enlutados. A idéia de um lugar definitivo, chamado céu, e de uma vida estática, chamada vida eterna, está cedendo aos poucos à verdade de uma evolução indefinida e progressiva rumo ao Infinito. Aqui no planeta Terra, estamos nós, os viajores, em corpo material; paralelamente, em outra região do Universo, estão outros viajores em corpo imaterial, os nosso defuntos, tão vivos como nós, demandando o mesmo destino universal....

Deveríamos habituar-nos cada vez mais, durante a vida, a não confundir real com material...

...Povos antigos mais avançados acompanhavam seus defuntos com luzes e flores, com cânticos e leituras religiosas. As auras pesadas produzidas pelo luto, pela tristeza, pelos lamentos dos sobreviventes, podem até ser um empecilho para a alma do falecido e dificultar- lhe a orientação em seu novo ambiente. Silêncio, calma, serenidade, criam um ambiente propício para a alma  em transição para outras regiões da existência.

Vibrações espirituais, como cântico e silenciosa meditação, deviam substituir a atmosfera de luto e tristeza, que em geral envolve o velório dos entes queridos que partiram para o além. Para o espírito não há ausência - há presença permanente.

Porque sofremos, páginas 35 a 38, Editora Martin Claret, 2006

domingo, 29 de maio de 2011

Sofredores profanos e iniciados

O problema não é sofrer ou não sofrer- o problema está em saber sofrer ou não saber sofrer.


Nenhum homem profano sabe sofrer decentemente- mas todo o iniciado pode sofrer serenamente, e até jubilosamente.


Que se entende por profano e iniciado?


Profano é todo aquele que está pró(diante) do fanum(santuário); é todo o exotérico que contempla o santuário do homem pelo lado de fora, e nunca entrou no seu interior... Iniciado é aquele que realizou o seu inire, o seu ir para dentro, a sua entrada no santuário de si mesmo; esse é um esotérico, um iniciado.


O profano é ignorante- o iniciado um sapiente de sua realidade...


Dificilmente, poderá o sofredor modificar as circunstâncias externas de sua vida que estão além do seu alcance, e por isto não pode abolir ou suavizar a sua dor.


O que o sofredor pode modificar é somente a substância interna de si mesmo, a atitude do seu Eu central, a sua consciência- e com esta nova perspectiva de dentro, o fenômeno externo do sofrimento adquire um aspecto totalmente diferente. Se o sofrimento não pode ser amável, pode ser pelo menos tolerável.


Todo o sofrimento, repetimos, é tolerável, quando o homem pode tolerar a si mesmo.


A amargura máxima do sofrimento não está no fenômeno externo dele, mas na atitude interna do sofredor. E essa correta atitude interna supõe autoconhecimento. Quando o sofredor sabe que não é o seu Eu divino,mas apenas o seu ego humano que sofre, então pode ele sofrer serenamente, e mesmo sabiamente-talvez até jubilosamente, por saber que ele está construindo a "única coisa necessária que nunca lhe será tirada."

A maior acerbidade do sofrimento ,como dizíamos, está na sua absurdidade, no seu aspecto paradoxal, no seu caráter antivital e antiexistencial-mas esse aspecto não vem do sofrimento em si, mas unicamente  da falsa perspectiva do sofredor. O sofrimento do sofredor profano é necessariamente absurdo, paradoxal, antivital, antiexistencial, e é capaz  de levar o sofredor à revolta, à frustração, ao suicídio, ou ao inferno em plena vida.

É pois de suprema  sabedoria que o homem mude de perspectiva e atitude- e isto, não quando vítima de uma tragédia, mas em tempos de paz e bonança. Dificilmente, o sofredor alcançará  essa serenidade durante o sofrimento, se antes dele, não a tiver alcançado... O homem deve vacinar, imunizar todo o seu ser com o soro da verdade sobre si mesmo, para que, na hora da tragédia, não sucumba ao impacto das bactérias mortíferas da revolta e do desespero.

... Quem enxerga o porquê da sua existência terrestre apenas nos gozos, já está  em vésperas de frustração. Quem confunde os objetivos da vida- fortuna, prazeres, divertimentos- com a razão-de-ser da sua existência- autoconhecimento e autorealização- é um profano, um exotérico, e não pode encontrar conforto na hora do sofrimento.

É suprema sabedoria iniciar-se na verdade do ser humano desde o princípio. Todos os objetivos da vida têm de ser integrados totalmente na razão-de-ser da existência.

Porque sofremos, páginas 32 a 34, Editora Martin Claret, 2006

terça-feira, 26 de abril de 2011

Mantém contato com a natureza

É fato histórico que todos os homens realmente espiritualizados e profundamente felizes eram e são dedicados amigos da natureza...Refere o livro do Gênesis que Deus pôs o homem no meio de um jardim maravilhoso, uma espécie de pomar chamado Éden, para que cultivasse e se alimentasse de seus frutos. Só depois que o homem cometeu o primeiro homicídio é que ele abandonou a Natureza de Deus e preferiu a cidade dos homens. O homem espiritualizado, porém, continua amigo do Éden de Deus...


O homem primitivo, meramente sensorial, é escravo da Natureza.
O homem intelectualizado é escravocata e explorador da Natureza.
O homem espiritual é amigo e aliado da Natureza; compreende a Natureza, e a Natureza o compreende.


A nossa civilização moderna fez com que o homem se divorciasse, total ou parcialmente, da Natureza, fazendo o viver num ambiente artificial, desnatural, antinatural, não menos prejudicial ao corpo do que à alma...


O que leva muitos homens a abandonarem os campos e se aglomerarem nas cidades não é só a necessidade de cultura nem mesmo o desejo de lucros fáceis e rápidos,mas sim, e sobretudo, o horror à solidão. A solidão externa aterra o homem que não possui plenitude interna. Esse homem, interiormente vazio, tenta fugit de si mesmo e encher com barulhos externos a sua vacuidade interna...


...O homem moderno nunca voltará aos tempos do homem pré histórico, ou dos silvícolas de nossas florestas. A verdadeira natureza do homem é espiritual, divina. O verdadeiro regresso à Natureza é, pois, um "ingresso", uma entrada do homem para o seu próprio interior, espiritual, eterno, divino...


Só quando o homem atinge a sua verdadeira natureza espiritual é que ele se torna plenamente natural- e só então começa ele a compreender a alma da Natureza ao redor dele. Os nossos poetas e romancistas, não raro, celebram os encantos da natureza; mas a maior parte deles só conhece o corpo da Natureza, ignorando-lhe a alma.


Só o homem que encontrou dentro de si a natureza da alma é que pode compreender a alma da Natureza fora de si mesmo. Para, de fato, compreender a Natureza de Deus deve o homem compreender o Deus da Natureza.

Hoje em dia, milhares de pessoas das grandes cidades passam os domingos e feriados em seus sítios. Infelizmente, muitos desses "sitiantes" são verdadeiros "sitiados", porque vivem em voluntário "estado de sítio". O fato de não terem encontrado a sua natureza interior não os deixa viver na simbiose com a alma da natureza exterior.

Fugiram da poluição material da cidade, mas carregam consigo e transferem para o campo e para o mato a sua poluição mental e espiritual... O verdadeiro sitiante vai dormir cedo e acorda cedo, com o sol ou antes dele. Planta árvores frutíferas para si e sua família e para os passarinhos.

Não mata passarinhos nem os aprisiona em gaiolas. Convive com a alma de todos os seres vivos.

O caminho da felicidade, páginas 99 a 101-Segunda Edição-2005,Editora Martin Claret

sábado, 23 de abril de 2011

Não creias numa morte real!

Para milhares de pessoas, é a perspectiva da morte inevitável o principal motivo de infelicidade. E essa infelicidade cresce na razão direta em que se aproxima, inexoravelmente, o fim da existência terrestre. Aprenderam, em crianças, que a morte é o fim da vida, e não conseguiram, mais tarde, libertar-se desse erro tradicional. Pelo contrário, o horror à morte foi neles intensificado por certas doutrinas teológicas sobre um estado definitivo post-mortem...


A vida continua lá onde parou. Não pode um processo material e meramente negativo, como é a destruição do organismo, modificar essencialmente a vida do homem. Não pode a morte negativa fazer o que a vida positiva não faz.


Quando um ovinho de borboleta "morre" para o seu estado primitivo, não morre a vida interna do ovo, morre apenas o invólucro externo dele, a fim de possibilitar à vida latente e pequenina uma expansão maior e mais bela....Morre a pequena vida do ovinho para que possa viver a vida maior da lagarta.


Quando, semanas mais tarde, a lagarta também "morre" e se imobiliza no misterioso ataúde da crisálida ou do casulo, mais uma vez essa pseudo morte preludia uma nova fase de vida, mais ampla e plena que as duas etapas anteriores.


Finalmente, vem a terceira "morte" desse inseto em evolução ascencional e o ocaso dessa terceira fase da vida é a alvorada da vida mais deslumbrante que vai despontar- a borboleta.


Em cada nova metamorfose, o inseto morre com a mesma tranquilidade com que nasce e renasce, porque sabe institivamente que essas vicissitudes de luz e trevas, de movimento e imobilidade, de expansão e contração são necessárias para atingir a meta final de sua evolução. O inseto não é capaz de crear uma falsa teologia ou filosofia sobre si mesmo, e por isso não teme a morte, prelúdio de uma vida nova.

Também o homem "morre" a cada noite, quando se recolhe ao sono- a fim de ressuscitar, no dia seguinte, com vida nova e maiores forças. É uma inconsciência entre duas consciências. Assim como o sono não atinge a vida central do nosso Eu, e sim apenas o invólucro periférico, do mesmo modo a morte não afeta a nossa íntima essência, que dá vida aos invólucros externos...

Quando, pois, vês morrer um dos teus entes queridos, leitor, não te entristeças, não chores desconsolado, não fales em desastre ou catástrofe, não te cubras de luto. Fica em silêncio por algum tempo, abisma-te em ti mesmo, acompanhando com a alma a metamorfose da tua "borboleta"...

O melhor meio para não ter medo da morte é praticar diariamente a "morte voluntária", antes que venha a morte compulsória..."Eu morro todos os dias", escreve Paulo de Tarso,"e é por isso que eu vivo; mas não sou eu que vivo, é o Cristo que vive em mim."

O caminho da felicidade, páginas 91 a 95-Segunda Edição-2005,Editora Martin Claret

domingo, 17 de abril de 2011

Seja o teu alimento o teu medicamento!

Se o homem observasse feilmente este preceito lapidar do médico/filósofo Hipócrates, reduziria em mais de 50% as suas misérias físicas. A humanidade de hoje costuma a ingerir dois tipos de venenos: uns chamam- se alimentos, outros chamam- se medicamentos. Se o homem ingerisse alimentos sadios, não teria necessidade de medicamentos. Saúde é harmonia com as leis da natureza, doença é desarmonia. As doenças não fazem parte do inventário  das matérias ou forças da natureza. As moléstias ocorrem por conta do abuso que o organismo faz das leis da natureza. Abuso é moléstia, uso é saúde.


Muitos homens se dizem infelizes porque não têm saúde. Ainda que a doença não seja, de per si, idêntica à infelicidade- porque é apenas sofrimento físico/mental- contudo, a moléstia predispõe para a infelicidade, sobretudo em se tratando de pessoas de pouca espiritualidade....


A ignorância das leis da natureza, a não observância da harmonia entre o indivíduo e o Universal- eis a causa principal dos nossos sofrimentos, nossos e da humanidade organicamente relacionada conosco...


O nosso corpo é o resultado dos alimentos que assimila. Se esses alimentos forem inteiramente saudáveis e consubstanciosos, não produzem doenças, nem haverá necessidade de remédios de espécie alguma...

Está cientificamente comprovado, tanto pela forma da dentição como pelas vias digestivas, que o homem não é carnivoro, como cães e gatos, nem propriamente herbívoro, como vacas e cavalos, mas antes frugívoro, como os símios e certos roedores. A principal dieta do homem deve consistir de frutas e sementes de toda espécie, aos quais poderá ser adicionada certa porcentagem de verdura.

A carne adulta não faz parte do cardápio humano, embora certos derivados de origem animal, como ovos e leiite, possam ser usados sem prejuízo. A abstenção de carne não é, em primeiro lugar,  um postulado de ordem ética, mas sim um imperativo de ordem biológica...

Todo e qualquer alimento é produto da luz solar. Essa luz ou energia solar, armazenada nos alimentos, chama-se "caloria". Nos vegetais a energia solar existe em primeira instância, isto é, em estado mais puro... A ciência provou que todas as coisas são "lucigênitas" (feitas de luz) e podem, por isso, ser "lucificadas"(transformadas em luz)....

A palavra latina vegetus de que derivamos "vegetal" e "vegetário", quer dizer "forte", "sadio".... As nossas doenças são filhas da nossa ignorância e moleza. Viver de acordo com a sapientíssimas leis da natureza é viver com saúde e felicidade.

O caminho da felicidade, páginas 77 a 82-Segunda Edição-2005,Editora Martin Claret

domingo, 3 de abril de 2011

Mantém permanente unidade na intermitente variedade!

Solicitei aos meus alunos de filosofia, em São Paulo, que me dessem umas sugestões pessoais sobre o que pensavam do problema da felicidade. Um deles escreve quase duas laudas a máquina, contendo numerosas variações de uma idéia central, que culmina no seguinte: para haver felicidade, deve haver intermitências periódicas; a permanência contínua de qualquer estado, por mais agradável em si, embota a sensibilidade,e,  por tanto, a consciência da felicidade; assim, quem estivesse sempre farto, ou sempre esfomeado, não seria feliz; para haver felicidade  é necessário que haja sucessão de fome e fartura: quem sempre descansasse ou sempre trabalhasse não seria feliz; é necessário que haja sucessão de trabalho e descanso; o maior dos gozos físicos ou mentais deixaria de ser gozo se não fosse alternado com o seu contrário. A felicidade,por tanto, consiste antes em um processo ou fluxo do que num estado ou quietação.


Que dizer quanto a isto?
Há nisso muita verdade- não, porém, a verdade total...


Para haver felicidade deve haver tanto permanência como intermitência- assim como, para haver cinema, deve haver uma tela branca, imóvel(permanente) e deve haver figuras que sobre ela se movam(intermitentes). A tela branca não é o cinema, nem as figuras em movimento podem ser projetadas no ar. Só a junção entre o imóvel e os movidos é que constitui o cinema como realidade total.


Unidade e variedade são fatores essenciais para a felicidade- ou seja, permanência e intermitência.


Parece até que no reino da Infinita Divindade vigora essa mesma lei universal: Deus é uno em sua essência, porém, múltiplo em suas existências: um no ser, muitos no agir...


Essa unidade na diversidade chama-se Universo, palavra genial, da qual nasceu a nossa Filosofia Univérsica. Tanto no macrocosmo mundial como no microcosmo hominal vigora o princípio da unidade na diversidade. O homem integral é o homem cósmico, o homem univérsico.


Há  duas coisas mortíferas: O caos e a monotonia.
Caos é variedade sem unidade.
Monotonia é unidade sem variedade.
Nem essa e nem aquela é felicidade.


A felicidade consiste essencialmente na harmonia que é unidade com variedade. Onde falta um dos dois elementos não há felicidade. A unidade é garantida pela essência permanente do homem- a variedade é creada pelas existências intermitentes, isto é, pelo processo evolutivo ou diversas fases de desenvolvimento do homem...


O homem moderno é, muitas vezes, infeliz,  não por monotonia, mas em virtude do caos de sua vida... Vítima de mil quantidades externas, não chega a experimentar a qualidade interna do seu ser. Muita são as coisas que ele tem ou deseja ter- pouco é aquilo que ele é... O homem moderno é existencialista, mas deixou de ser essencialista....


Com medo de ser monótono, acaba sendo caótico. Mas o caos não é menos infelicitante que a monotonia; são dois assassinos eqüidistantes da felicidade vivificante.


Pode ser que o homem oriental não seja feliz, por hipertrofia de passividade- mas, se o homem ocidental é infeliz, é quase sempre por hipertrofia de atividade e atrofia de passividade. A harmonia entre a extrema passividade e a externa atividade seria uma passividade...


Passividade é permanência- atividade é intermitência.


Em que consiste esta passividade ou permanência de atitude?


Consiste, antes de tudo, na consciência nítida da nossa eternidade, do nosso Ser absoluto, infinito, da nossa essencial divindade( contrabalançada pela existência humana). Consiste no descobrimento do nosso Eu central, do nosso Emanuel, do nosso Cristo interno, do Reino de Deus dentro de nós, consiste em nossa autorrealização, na nítida consciência daquilo que, na realidade, somos.


A felicidade do homem ocidental não pode ser conseguida pela diminuição das suas atividades externas, intermitentes- mas sim pela intensificação  da consciência de sua unidade interna, permanente.  Somos infelizes porque, de tão dispersos que andamos pelas periferias múltiplas do mundo de fora, deixamos de saborear a repousante convergência para o nosso centro de dentro, a realidade do seu verdadeiro EU.


A nossa consciência telúrica é máxima- a nossa consciência cósmica é mínima...


A consciência telúrica é gerada pelos sentidos e pelo intelecto- a consciência cósmica é filha da razão ou do espírito.


A solução não está, pois, em abolirmos as nossas atividades horizontais, dos sentidos e do intelecto, mas em lhes acrescentarmos a atividade vertical da razão espiritual. A felicidade é essencialmente cósmica, isto é, nascida do consórcio do físico-mental com o racional(espiritual), isto é,  o homem integral, univérsico.


O homem mais feliz que já apareceu na face da Terra foi Jesus, o Cristo, porque nele era a máxima a consciência cósmica da sua identidade com o Infinito "Eu e o pai somos um", aliada à perfeita consciência telúrica da diferença entre ele e o Infinito. "O Pai é maior do que eu."


No dia e na hora em que a consciência telúrica do homem do homem físico-mental for plenamente integrada  na consciência cósmica do homem racional- nascerá o homem perfeitamente feliz.

O caminho da felicidade, páginas 68 a 71, Segunda Edição-2005,Editora Martin Claret

quarta-feira, 23 de março de 2011

Olha para além dos horizontes!

Tudo o que agora dissemos sobre o caminho da felicidade  e os meios para alcançá-la será praticamente tão difícil que a maior parte dos leitores não conseguirá  realizar o supremo ideal, se não habituar a olhar para além dos horizontes da vida terrestre.


A fim de prevenir qualquer equívoco ou mal entendido, vamos, logo de início, deixar bem claro o que entendemos com a expressão "olhar para além dos horizontes"....Quer dizer...encarar a vida humana em toda a sua  plenitude real, e não apenas num aspecto fragmentário, incompleto.


Exemplifiquemos: se uma lagarta quisesse resolver os problemas da sua vida de inseto voraz apenas na base dessa sua existência provisória, de lagarta, ignorando as outras fases de sua vida, sobretudo a da borboleta alada, não acertaria jamais com a solução satisfatória, porque a sua existência de hoje só é compreensível à luz da sua existência de amanhã...


Semelhantemente, quando o homem toma a sua vida terrestre separadamente da sua existência total, do seu destino futuro, para o qual a vida presente está como o estágio da largata para o da borboleta- não encontra explicação para certas realidades da vida terrestre, sobretudo para os inevitáveis sofrimentos. E essa falta de explicação satisfatória gera infelicidade.


O sofrimento em si não gera infelicidade; a infelicidade em todo seu amargor provém do caráter absurdo e paradoxal do sofrimento. Uma vez destruído este caráter revoltante por meio de uma compreensão serena e real...

A parte não se explica pela parte, mas somente pelo Todo. O fragmento é absurdo e sem sentido quando não relacionado, como parte integrante,a um Todo maior...

A consciência telúrica do homem de hoje, creada pela inteligência personal, produz a infelicidade da vida, por falta da integração na consciência cósmica do homem de amanhã, consciência essa gerada pela razão espiritual, pelo Cristo dentro de nós.

A convicção de uma vida futura- ou melhor, a continuação da vida presente- não é apenas um artigo de fé dogmática, como, por outro lado, não é desmonstrável por argumentos analíticos da simples inteligência... Uma vez adquirida essa certeza definitiva da vida eterna pós-morte, o homem acha fácil e espontâneo colocar a sua vida terrestre, de poucos decênios, como parte integrante desse grande Todo da sua vida sem fim...

Crer na imortalidade é necessário, mas não é suficiente. A crença é da vontade, a ciência é do intelecto, a sapiência é da razão, ou do espírito.

Entretanto para que essa certeza intuitiva nasça da alma, duas coisas são necessárias,a saber: 1)Ter fé na realidade da vida eterna. 2)Harmonizar a sua vida cotidiana com o conteúdo dessa fé...

Os mais conhecidos obstáculos para essa fé eticamente vivida são os seguintes: a cobiça, a luxúria,  o orgulho,a desenfreada caça aos bens terrenos, a ânsia de elogios e aplausos, o desejo de um coforto material excessivo, a falta de controle e disciplina sobre os nossos pensamentos e sentimentos, o egoísmo em todas as suas manifestações- tudo isso é como imundície que obstrui  os canais por onde deviam fluir as águas límpidas da certeza intuitiva da vida eterna, sem a qual não pode haver verdadeira tranquilidade, paz e felicidade interiores.

Harmozinar a sua vida cotidiana com os ditames de sua fé é o requisito número um  para a formação de uma consciência clara e sólida sobre a imortalidade. Por mais difícil  que seja essa harmonização  da vida com a fé, vale a pena empenhar o máximo para tal, mesmo que seja no último quartel da vida terrestre, porque a verdadeira felicidade  vale por todos os sacrifícios.

O caminho da felicidade, páginas 49 a 53,  Segunda Edição-2005,Editora Martin Claret

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Não pares a meio caminho!

cOs que estudaram o primeiro capítulo, sobre os erros fundamentais do homem comum quanto à noção do seu "eu", terão perguntado a si mesmos: por que é que a maioria do gênero humano ignora o seu verdadeiro "eu"? Por que é que a quase totalidade dos homens considera  o seu ego-físico/mental como a essência da sua individualidade? Não sugere essa confusão geral a idéia  de que o homem não foi creado para conhecer a verdade, sobretudo a importantíssima verdade sobre a íntima natureza do seu ser?


Respondemos o seguinte: O homem de hoje é ainda um ser incompleto, provisório, em plena jornada evolutiva, longe do seu destino final...Até hoje, só apareceu sobre a face da Terra um único homem plenamente desenvolvido, física, mental e espiritualmente; e esse "filho do homem" nos disse: "Vós fareis as mesmas obras que eu faço, e as fareis até maiores". O que nesse homem estava plenamente desenvolvido acha-se, no comum dos homens, ainda em estado embrionário, latente, meramente potencial.


O homem compõe-se dos elementos material(corpo),mental(intelecto) e racional ou espiritual(alma); e, como toda evolução procede de fora para dentro, da periferia para o centro, da quantidade para a qualidade, era natural que o homem descobrisse, em primeiro lugar, o elemento material do seu ser, isto é,o seu corpo dotado dos cinco sentidos.


Os cinco sentidos são, por assim dizer, cinco portas ou canais, que põem o homem em contato com o mundo material ao seu redor. Por meio desse contato sensorial com o ambiente externo, enriquece o homem o seu ser, assimilando algo desse mundo físico...


Além dos cinco sentidos,esses portais externos, possui o homem três faculdades internas de conhecimento, que são o intelecto, a imaginação e a memória. Pelo intelecto elabora o homem ulteriormente a matéria-prima que os sentidos lhe forneceram; isto é, percebe as invisíveis relações, ou leis, que regem os fenônemos visíveis. Os sentidos apenas "percebem" os fatos concretos, ao passo que o intelecto "concebe" as leis abstratas que regem esses fatos...


Pela imaginação crea o homem imagens internas  dessas mesmas relações ou leis que o intelecto descobriu. A memória por assim dizer, armazena e arquiva o conteúdo do intelecto e da imaginação, tornando o homem capaz de evocar e representar( isto é, tornar novamente presentes) fatos ocorridos no passado ou a distância...


A transição  da simples percepção sensória para a concepção intelectual do homem deve ter demandado muitos milhares ou milhões de anos, porque essa nova consciência intelectual supõe profunda modificação nos nervos, mudança essa que se processou a passos mínimos em espaços máximos, como aliás toda a evolução. Os nervos são como que antenas ou aparelhos receptores de ondas invisíveis. Para captar as "ondas longas" emitidas pelos objetos do mundo material bastam os receptores primitivos dos sentidos; mas para captar as "ondas curtas" das invisíveis leis que regem a matéria, requer-se um aparelho receptor muito mais delicado e sutil.


Hoje  em dia, na Era Atômica, esse receptor intelectual do homem atingiu a grande perfeição, pondo a humanidade em contato com realidades que nenhum sentido orgânico pode verificar.


Entretanto, a faculdade racional(chamada também de espiritual ou intuitiva) do homem acha-se ainda em estado tão embrionário como era, em épocas remotas,a faculdade intelectiva da nossa raça...


Segundo Teilhard de Chardin, o homem percorre quatro estágios evolutivos: hilosfera(material), biosfera(vital), noosfera(intelectual) e logoesfera(racional)...


A humanidade, salvo raras exceções, se encontra hoje no estágio sensitivo-intelectivo, ignorando, total ou parcialmente, o mundo racional ou espiritual. Portanto, esse mundo por nós ignorado não exerce sobre a nossa vida influência ponderável.

Ora, o mundo sensitivo-intelectivo é o mundo do egoísmo individual, fonte de todos os dolorosos problemas e da infelicidade da vida humana. Com a entrada no mundo racional ou espiritual, o homem ultrapassaria as zonas desses problemas infelicitantes, oriundos do egoísmo unilateral; entraria na zona do altruísmo ou do amor universal.

Segue-se logicamente que a conquista definitiva da felicidade imperturbável depende essencialmente do descobrimento prático desse vasto mundo racional...

O Caminho da Felicidade,páginas 41 a 44, Segunda Edição-2005,Editora Martin Claret

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Que é ser feliz?

Que é ser feliz?


Ser feliz é estar em perfeita harmonia com a constituição do Universo, consciente ou inconscientemente. A natureza extra-hominal é inconscientemente feliz, porque está sempre, automaticamente, em harmonia com o universo. Aqui na Terra, só o homem pode ser conscientemente  feliz e também conscientemente infeliz.


...Com o homem começa a bifurcação da linha única da natureza; começa o estranho fenônemo  da liberdade em meio à universal necessidade. A natureza só conhece um dever compulsório. O homem conhece um querer espontâneo,seja rumo ao positivo,seja rumo ao negativo.


O desejo universal é a felicidade-e, no entanto, poucos homens se dizem felizes. A imensa maioria da humanidade tem a potencialidade ou possibilidade de ser feliz-poucos têm a felicidade atualizada ou revisada...


Qual a razão última por que muitos homens não são felizes, quando o poderiam ser?


Passam a vida inteira marcando passo no plano horizontal do seu ego externo, e ilusório-nunca mergulharam nas profundezas verticais do seu Eu interno e verdadeiro. E quando a sua infelicidade se torna insuportável, procuram atordoar, esquecer, narcotizar temporariamente esse senso e infelicidade, por meio de diversos expedientes da própria linha horizontal, onde a infelicidade nasceu...


Camuflar com derivativos e escapismos a infelicidade não é solucionar o problema; é apenas o mascarar e transferir a infelicidade para outro tempo- quando a infelicidade torna a se manifestar com redobrada violência.


Remediar é remendar-não é curar,erradicar o mal.


A cura e a erradicação consiste unicamente na entrada em uma nova dimensão de consciência e experiência. Não consiste em uma espécie de continuísmo- mas sim em um novo início, em uma iniciativa inédita, numa verdadeira iniciação...


Todos os mestres da humanidade afirmam que a verdadeira felicidade do homem, aqui na Terra, consiste em "amar o próximo como a si mesmo". Ou então em "fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam."


Existe essas possibilidade de eu amar meu semelhante assim como me amo a mim mesmo?
Em teoria,muitos o afirmam; na prática poucos o fazem.
De onde vem essa dificuldade?


Da falta de um verdadeiroa autoconhecimento. Pouquíssimos homens têm uma visão nítida da sua genuína realidade interna; quase todos se identificam com alguma facticidade  externa, com o seu ego físico, seu ego mental ou seu ego emocional. E por essa razão não conseguem realizar o amor-alheio igual ao amor-próprio...


Amor-próprio não é necessariamente egoísmo. Egoísmo é o amor-próprio exclusivista, ao passo que o verdadeiro amor-próprio é inclusivista, inclui todos os amores-alheios no seu amor próprio, obedecendo assim ao imperativo na natureza e à voz de todos os mestres espirituais da humanidade.


Enquanto o homem marca passo no plano horizontal do seu ego, o que pode haver em sua vida é guerra e armistício-mas nunca haverá paz... O ego ignora totalmente o que seja paz. O ego de boa vontade assina armistícios temporários, o ego de má vontade declara guerra de maior ou menor duração-. mas nem esse nem aquele sabem o que seja paz...


Paz e alegria duradouras nada têm de ver com guerra e armistício, que são do ego, de boa ou má vontade; a paz e a alegria permanentes são unicamente as do Eu divino no homem.


Onde não há autoconhecimento, experiência da realidade divina do Eu espiritual, não há felicidade, paz, alegria, Enquanto o homem conhece apenas o seu ego físico-mental-emocional, vive ele no plano da guerra e do armistício; quando descobre o seu Eu espiritual, faz o grande tratado de paz e alegria no templo da Verdade Libertadora...


Os mestres também deixaram perfeitamente claro que essa paz durável, sólida, dentro do homem e entre os homens, não é possível no plano meramente horizontal do ego para ego, mas exige imperiosamente  a superação desse plano, o ingresso na ignota zona da verticalidade do Eu. Os grandes mestres, sobre tudo o Cristo, não convidaram os seus discípulos apenas para passar de um ego de má vontade (vicioso) para um ego de boa vontade( virtuoso)-a mensagem central de todos os mestres tem um caráter metafísico, ontológico, cósmico; é a transição de todos e quaisquer planos horizontais-ego para a grande vertical do Eu da sabedoria, do "conhecimento da Verdade Libertadora..."


O ego de boa vontade é, certamente, melhor que o ego de má vontade-, mas só o Eu Sapiente está definitivamente remido de todas as suas irredenções e escravidões. Somente a Verdade, intuída e vivida, é que dá libertação real e definitiva...

O caminho da felicidade,páginas 17 a 21-Segunda edição 2005,editora Martin Claret

sábado, 22 de janeiro de 2011

"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça"

"Justiça", como já dissemos, significa atitude justa e reta do homem para com Deus. O homem "justo" nos livros sacros, é o homem santo, o homem crístico, o homem que realizou em alto grau o seu Eu divino pela experiência mística manifestada na ética. O homem "justo" é o homem que se guia, invariavelmente, pelos dois grandes mandamentos, o amor de Deus e a caridade do próximo.


Mas, será possível que alguém sofra perseguição por causa dessa justiça, por causa da sua santidade?


O Evangelho de Jesus está repleto de afirmações dessa natureza, e a experiência multissecular o confirma. ―Por causa do meu nome sereis odiados de todos, e chegará a hora em que todo aquele que vos matar julgará prestar um serviço a Deus. ―Arrastarvos-ão perante reis e governadores e sinagogas; mas não vos perturbeis! Porque o servo não está acima de seu senhor; se a mim me perseguiram também vos hão de perseguir a vós. ―Os inimigos do homem são os seus companheiros de casa...


Há duas razões fundamentais por que o homem justo é perseguido por outros homens individuais ou por sociedades humanas.


1 — Um indivíduo persegue outro indivíduo, não só porque este seja mau, mas, também, pelo fato de ser bom.


Por quê?

Porque o homem justo aparece como elemento hostil a outro homem menos justo. A simples presença de um homem mais santo do que eu é, para mim, uma declaração de guerra, ou, pelo menos, uma permanente ofensa. Ora, ninguém tolera, por largo tempo, a consciência da sua inferioridade. Enquanto não aparece outro homem de elevada espiritualidade, pode o homem menos espiritual viver tranqüi lo na sua inferioridade, porque esta não é nitidamente percebida senão quando polarizada pelo contrário ou por uma espiritualidade superior...


Em face dessa inquietação, duas atitudes seriam possíveis: a) o vivo desejo de ser tão espiritual como o outro e o esforço correspondente a esse desejo; b) uma atitude de despeito e agressividade.
A primeira atitude é a dos homens humildes e sinceros; a segunda é a dos homens orgulhosos e insinceros consigo mesmos. Os primeiros se tornam discípulos do homem espiritual, os últimos se tornam seus adversários...


2 — No terreno social das organizações eclesiásticas acresce ao primeiro, outro fator, aparentemente mais justificável: o homem altamente espiritualizado é sempre uma espécie de exceção da regra, é um pioneiro que abandonou as velhas estradas conhecidas e batidas pela turbamulta dos crentes e rasga caminhos novos, ―"por mares nunca dantes navegado", por ignotas florestas, por ínvios desertos que poucos conhecem. Esse homem ultrapassa, quase sempre, os caminhos tradicionais do passado, e até do presente, e abre novas rotas para o futuro. Toda e qualquer inovação, por mais verdadeira, é, no principio, considerada como erro, e até como perigo social.


Ora, é sabido que, no mundo espiritual, todo homem se sente grandemente inseguro, porque esse mundo lhe é desconhecido, como tudo que apenas se crê, sem dele ter experiência imediata. A única coisa que nos dá certa segurança ao homem inexperiente é o fato de que milhares e milhões de outros homens trilham esses mesmos caminhos, já por séculos e milênios, e muitos deles são bons e relativamente felizes.


De maneira que o fator ―"massa" e o fator ―"tradição nos dão uma espécie de segurança e firmeza, no meio da insegurança e incerteza que, naturalmente, experimentamos por entre as trevas ou penumbras da vida espiritual. E isto nos faz bem. Quando então aparece um homem que parece não necessitar desses 

elementos de segurança garantidos pela massa e tradição, dá-se uma espécie de terremoto que abala as instituições antigas.


Por isso , as sociedades religiosas organizadas, que contam sempre com o fator massa e tradição, dão grito de alerta e de alarme, e previnem seus filhos contra o perigoso inovador, o herege, o demolidor, o apóstata. Quando as sociedades religiosas possuem suficiente poder físico, eliminam do número dos vivos o perigoso demolidor das tradições, e isto ―"pela maior glória de Deus e salvação das almas". Quando não possuem esse poder, procuram neutralizar a ação do herege matando-o moralmente, isolando-o por meio de campanhas sistemáticas de difamação e calúnia...


Existe, aqui na terra, e por toda a parte, a ―"comunhão dos santos", isto é, a misteriosa união de todos os que conhecem e amam a Deus, a fraternidade branca dos irmãos anônimos formada pelos solitários pioneiros do Infinito. E eles sabem qué éprofundamente verdadeiro o que o grande Mestre disse: ―Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles Dois ou três — porque nunca serão muitos no mesmo lugar e tempo, os homens cristificados...


O homem justo é perseguido por causa da sua espiritualidade, tanto pelos indivíduos menos espirituais, como também pelas sociedades organizadas que necessitam de massa e tradição para sua sobrevivência; mas, apesar de tudo, ele vive num ambiente de paz e felicidade, porque está na ―"comunhão dos santos".

Do livro "O Sermão da Montanha", páginas 50 a 54(2003)-Editora Martin Claret-Coleção a Obra-Prima de Cada Autor.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"Bem-aventurados os tristes"

Antes de tudo, convém distinguir duas espécies de tristeza e alegria, uma tristeza central, permanente, por vezes circundada de alegrias periféricas, intermitentes-e uma alegria  central, permanente, que, por vezes, se acha envolta em tristeza periférica, intermitente.


Pode alguém ser infeliz* e estar alegre-como também poder ser alegre(feliz)** e estar triste. O que é decisivo é a atitude interna, permanente, positiva ou negativa. E essa atitude radica, em última análise, num profundo substrato metafísico, a VERDADE, ou então o seu contrário. Quem tem a consciência reta e sincera de estar na Verdade é profundamente alegre, calmo, feliz, embora externamente lhe aconteçam coisas que o entristeçam -e quem no íntimo das sua consciência, sabe que não está na Verdade é profundamente infeliz*, ainda que externamente se destraia com toda a espécie de alegrias.


Quanto mais triste o homem é internamente, pela ausência de harmonia espiritual, tanto mais necessita ele, de alegrias externas, geralmente ruidosas e violentas. Esse homem não tolera a solidão, que lhe traz consciência mais nítida da sua vacuidade ou desarmonia interior; por isso, evita quanto possível estar a sós consigo...


Quem teme a concentração necessita de toda espécie de distrações para poder suportar a si mesmo. E, como essas distrações e prazeres, pouco a pouco, calejam a sensibilidade, necessita esse homem de intensificar progressivamente os seus estimulantes artificiais para que ainda produzam efeito sobre seus nervos cada vez mais embotados.




Mas, quando o homem acerta em descobrir a bela tristeza da vida com Deus, renuncia espontaneamente a essas horrorosas alegrias da vida sem Deus, ou então satura de espiritualidade todas as suas materialidades, transformando em oásis de vida abundante o seu velho deserto morto.


Aos olhos dos profanos, leva o homem espiritual uma vida tristonha e descolorida... E talvez não seja possível dar ao profano uma idéia de profunda alegria e felicidade  que o homem espiritual goza, porque esta jaz em uma outra dimensão, totalmente ignorada pelo profano.


O homem habituado a certo grau de espiritualidade tem uma imensa vantagem sobre o homem não-espiritual; não necessita de estímulos violentos para sentir alegria, porque a sua alegria não vem de fora e sim de dentro. E as fontes da sua alegria brotam por toda a parte; nem é necessário que saia de casa para encontrar motivos de alegria, porque sua alegria é de qualidade, que não está sujeita às categorias do tempo e espaço. como as alegria ruidosas e grosseiras dos profanos. Um único grau de alegria-qualidade dá maior felicidade do que sem graus de alegria-quantidade...


O homem espiritual da bela tristeza é proclamado "bem aventurado", e tem a certeza de ser consolado. Um dia , a sua bela tristeza de hoje se converterá numa jubilosa alegria de amanhã. E isso pode acontecer mesmo antes de ele morrer fisicamente.Quando plenamente realizado no Cristo, pode dizer como este, em véspera de sua morte: "Dou-vos a paz, deixo-vos a minha paz para que a minha alegria esteja em vós e seja perfeita a vossa alegria". Pode dizer também como um dos mais cristificados que a humanidade conhece: "Transbordo de júbilo em todas as minhas tribulações."...


"Bem-aventurado os que estão tristes- porque eles serão consolados."


*Palavra original do texto é "triste",mas a troquei por "infeliz" para não ficar confuso para o leitor.Como pode alguém ser triste e estar alegre?Então utilizei me do "infeliz",que é um estado mais permanente que o "triste".


*Coloquei a palavra "feliz" entre parênteses,para facilitar a compreensão do leitor,o mesmo motivo da questão acima.




O Sermão da Montanha,páginas 45 a 49.(2003)-Editora Martin Claret-Coleção a Obra-Prima de Cada Autor.